Painel Internacional WRA - sobre a colaboração e a formação de comunidades


Esta semana participei do Painel Internacional Web Rádio Água que tratou das ações e desafios de se trabalhar com educomunicação e formação de comunidades com foco na preservação ambiental.

O painel contou com a participação de membros da Itaipu Binacional, Unesco, Movimento Nacional dos Catadores, Rádio pela educação de Santarém, Ministério do Meio-ambiente, Secretaria do Meio Ambiente da Bahia, Agência Nacional de Águas e Universidade de São Paulo, onde todos compartilharam conhecimentos e experiências importantes sobre o desenvolvimento de projetos.

Acompanhar as experiências compartilhadas no painel me levou a questionar como se desenvolve o engajamento dos individuos em projetos desta natureza, haja vista que tais ações primam por despertar não só a consciência ambiental, mas por provocar nos indivíduos uma postura pró-ativa em relação aos problemas deste tema. Despertar esta postura nos indivíduos significa tornar o projeto vivo, com a participação efetiva que possibilita a co-criação, deixando o projeto fluir por conta do próprio público envolvido.

Neste contexto de colaboração e co-criação o papel do mediador deve ser repensado, pois ao invés de dizer o que os indivíduos tem de fazer, ele simplesmente indica o caminho. Esta é uma postura muito nova que reconhece e valoriza o individuo, tornando-o parte do projeto e não meramente um participante. Quando o sujeito tem clareza em seus objetivos ele tende a desenhar seu próprio caminho. Isto significa dar liberdade de criação para os sujeitos envolvidos, mostrando desprendimento sobre as ideias e com o próprio projeto. Porém reconhecer o papel ativo do sujeito ainda é um tabu que precisa ser desenvolvido, pois há aquela velha questão de que o responsável pelo projeto é também o seu dono. Esta relação de apropriação da ideia é algo que nos é ensinado, mas que guarda em si uma grande discussão.

Procuro entender o mundo pelo ponto-de-vista da análise do discurso, onde tudo o que fazemos e pensamos deve ser analisado de forma complexa, por meio do estudo de seu contexto histórico-social. Por isso entendo que toda ideia é fruto das interações sociais e ambientais e, portanto não devemos pensar que a propriedade da ideia é exclusiva de uma só pessoa. Gabriel Tarde (s.d: 424) tem uma definição interessante sobre invenção que podemos transpor para esta discussão sobre ideia ou pensamento, dizendo que "qualquer invenção, qualquer descoberta, consiste num encontro mental de conhecimentos já antigos e a maior parte das vezes transmitidos por outro". Esta linha de raciocínio nos leva a questionar diversos pontos importantes que estão em plena discussão, como exemplo da propriedade intelectual, das licenças de uso, a Creative Commons, e também tem plena ligação com o  tema de nossa discussão, o engajamento e a colaboração.

Temos de entender que para haver colaboração há necessidade de um espaço de ampla discussão, com abundância de informações, objetivos claros e de verdadeiro diálogo. Sem estas características não existe colaboração, pois o individuo não se envolverá se não tiver domínio sobre o assunto, se não puder ser ouvido, se não puder participar efetivamente das discussões. São estes os pontos cruciais que viabilizarão o aparecimento da colaboração na formação de públicos, tirando do individuo o papel de mero executor de tarefas previamente determinadas. Sobre esta questão quero pontuar uma fala do sr. Luiz Antônio Ferraro Junior, Diretor de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia, que disse em sua palestra que "tudo que é normativo apaga a pergunta". Esta é uma afirmação muito acertada para esta nossa discussão, pois se o indivíduo for inundado por normas, deveres e atividades impostas ele não terá oportunidade de questionamento, inviabilizando o verdadeiro diálogo que é o formador da colaboração.

Diante disto, projetos como a WRA e os outros apresentados no Painel Internacional WRA, que prezam por uma comunicação formadora, que colocam o individuo no centro das ações, que proporcionam um espaço de ampla discussão, é que possibilitam a formação de verdadeiras comunidades de ação.

Quero parabenizar à equipe WRA pelo belo trabalho:

Robson Carvalho Turcato - RP
Willbur Souza - Jornalista
Fagner de Oliveira - Analista de TI

Citação em: TARDE, Gabriel, s.d., As Leis da Imitação, Porto, Rés

Apresentação do Movimento Nacional dos Catadores. 


Apresentação do Projeto da Rádio pela Educação de Santarém. 

This entry was posted on domingo, 10 de março de 2013 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.